Um costume muito antigo na Santa Igreja, propõe que sejam feitas missas votivas conforme cada dia da semana, caso não haja uma obrigatoriedade litúrgica. Nesse caso, as terças-feiras são sempre dedicadas aos Santos Anjos da Guarda¹, a fim de motivar os fiéis a terem uma devoção viva para com os anjos. Contudo, hoje celebramos a memória angélica. A liturgia do dia 29 de setembro está ligada ao culto de toda a realidade angélica, mas, desde o século XVI, começou-se a celebrar uma liturgia distinta dedicada aos Anjos da Guarda, que foi universalizada por Paulo V, em 1608, assim se espalhou pelo mundo inteiro².
A palavra “anjo” significa: enviado, mensageiro divino. Eles são criaturas pessoais e imortais, puramente espirituais, dotadas de inteligência e vontade que intercedem a Deus por nós. Eles são servos e mensageiros de Deus, que “contemplam continuamente o rosto do meu Pai, que está nos Céus”, disse Jesus Cristo, o Filho de Deus (cf. Mt 18, 10). Eles são os poderosos executores das ordens do Senhor, sempre atentos à Sua palavra (cf. Sl 103, 20). Por isso, com clareza, lemos no Salmo 91: “Pois Ele encarregará seus anjos de guardar-te em todos os teus caminhos”. Quando nos deparamos com os mistérios da vida de Jesus, conseguimos perceber que este salmo profetiza a presença dos anjos na vida do Senhor. Da mesma forma, eles se fazem presentes em nossa vida como nos revelou a o evangelista: “Guardai-vos de desprezar algum desses pequeninos, pois eu vos digo, nos céus os seus anjos se mantêm sem cessar na presença do meu Pai que está nos céus” (Mt 18,10).
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, desde o início até a morte, a nossa vida é acompanhada pela assistência e intercessão dos anjos. “Cada fiel tem ao seu lado um anjo como protetor e pastor para o guiar na vida. Desde este mundo, a vida cristã participa, pela fé, na sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus” (CIC 336). E também, “Os anjos são criaturas espirituais que glorificam a Deus sem cessar e servem os Seus planos salvíficos em relação às outras criaturas: ‘Ad omnia bona nostra cooperantur angeli – Os anjos prestam a sua cooperação a tudo quanto diz respeito ao nosso bem’”(CIC 350). A existência dos anjos é dogma de fé confirmado por vários Concílios, pela Sagrada Escritura e pela Tradição da Igreja que os apresenta nos escritos dos Santos Padres e dos Santos doutores.
O primeiro Concílio Ecumênico, que confirmou a existência dos seres espirituais, foi o de Nicéia, em 325, quando fala “dos seres invisíveis” criados por Deus. O Magistério da Igreja confirmou a realidade dos anjos no Concílio de Latrão IV (1215). O Catecismo da Igreja afirma, sem hesitação, a existência dos anjos: “A existência dos seres espirituais, não-corporais, que a Sagrada Escritura, chama habitualmente de anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto a unanimidade da Tradição” (§ 328). O Papa Pio XII, na sua encíclica Humani Generis (1959), reafirmou que os anjos são “criaturas pessoais”, dotadas de inteligência sagaz e vontade livre (DS 3891).
São Gregório Magno, doutor da Igreja (540-604), dizia que “cada página da Revelação escrita atesta a existência dos Anjos”. A presença e a ação dos anjos bons e maus estão a tal ponto inseridas na história da salvação, na Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja, que não podemos negar a sua existência e ação, sem destruir a Revelação de Deus. Eles são mencionados mais de 300 vezes na Bíblia. Os Concílios de Latrão IV e Vaticano I afirmaram que: “Deus, com sua virtude onipotente, no início dos tempos, simultânea e igualmente, criou uma e outra criatura, a espiritual e a corporal, isto é, a angélica e a material e depois a humana; esta, composta de espírito e de corpo”.
Com relação ao lugar onde o anjo se encontra, São Tomás ensina, na Questão III da Suma Teológica, o seguinte: “Os anjos não estão em um lugar, tal como os corpos, isto é, de uma maneira própria e circunscritiva, mas de uma maneira que transcende o lugar” (Art. I).
Muitos foram os santos que cultivaram devoção a eles e se santificaram através deles. Dom Bosco por vezes foi defendido por seu Anjo que aparecia como um cachorro e tinha o apelido de “Grigio”, Domingos Sávio resgatou uma menina com a ajuda de seu anjo mesmo sem saber nadar, São Benedito recrutava os anjos em suas atividades na cozinha e por muitas vezes foi ajudado. Esses e tantos outros santos receberam esse auxílio, por isso recomendava Padre Pio aos seus dirigidos espirituais no seguinte trecho de uma carta a uma moça chamada Anita: “Pelo amor de Deus, não se esqueça desse companheiro invisível [o Anjo da Guarda], sempre presente, sempre disposto a nos escutar e pronto para nos consolar. Ó deliciosa intimidade! Ó deliciosa companhia! Se pudéssemos pelo menos compreender isso (…)!”³.
A amizade com nosso Anjo da Guarda desenvolve-se em várias fases. Primeiramente, é necessário tomar consciência de sua existência, saber e compreender, mas também apreciar aquilo que a fé da Igreja Católica nos apresenta em beleza e importância a respeito desses seres angélicos. Depois, será necessário adquirir a capacidade de escutar nosso Santo Anjo, abrir-nos ao mistério da sua presença ininterrupta em nossa vida, para crescermos na amizade com ele. Nesse sentido, o que é mais importante para o desenvolvimento dessa amizade é o silêncio, a paz, a pureza e a simplicidade como atitude de vida. Além disso, precisamos aprender a obedecer o Anjo da Guarda e tudo fazer com a sua cooperação. Um dos últimos degraus da amizade com o Anjo da Guarda é a nossa consagração a ele, que pode ser feita através da Obra dos Santos Anjos (Opus Angelorum).
Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarda, me governa, me ilumina. Amém
Santos Anjos da Guarda, rogai por nós!
Fontes: ¹ presbiteros.org.br/missas-votivas ² Um santo para cada dia/Liturgia das Horas ³ pt.aleteia.org/2015/05/14/o-padre-pio-e-os-anjos-da-guarda formacao.cancaonova.com Livro: Anjos companheiros no dia a dia – Monsenhor Jonas Abib
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